Miss Marvel
Começo afirmando que estou completamente apaixonada pelo HQ e não vejo a hora de lançarem os próximos no Brasil. A protagonista, Kamala, ganha, no roteiro, destaque em relação a outros personagens muçulmanos, entre os personagens de minorias no HQs, e isso por não ser tratada como um outro, partindo do conceito explorado por Simone de Beauvoir. Em linhas gerais, Beauvoir, faz referência a respeito da existência, que não existe senão se fazendo ser. A condição de ser livre é efetuar a passagem da natureza para a moralidade, fundando através de nossa existência uma liberdade autentica, ou seja, realizar-se como liberdade é levar um impulso direto ao outro, colocando a presença do objeto como sua própria presença. Desse modo, já deixo evidente que se trata de uma personagem de puro empoderamento feminino, o que me fez vibrar a cada requadro lido. O roteiro gira em torno de uma adolescente, cheia de conflitos internos, conflitos com os pais, com a sociedade e sua escolha religiosa, dividida entre culturas, mas sem misturar cultura e religião como muitos fazem, nerd, aficcionada por fanfic e tudo isso de maneira bem próxima ao mundo real, nada de exploração de belos pares de coxas, seios fartos, uniforme fetiche, mas sim uma adolescente feminina que cresce à medida que se desamarra dos ditames da sociedade e se assume como quer e acredita que deva ser.
Como colocado anteriormente, Kamala, não é a primeira personagem muçulmana, antes dela temos Simon Baz - Lanterna Verde , Nighttrunner, criado para um dos arcos em Batman e o agente secreto Naif Al-Sheikh (todos esses pela DC), pela Marvel temos Sooraya Qadir (vulgo Pó) uma x-men.
Contudo, fugindo ao conceito dos personagens muçulmanos citados anteriormente, a menina que nasceu em Jersey City, mas de família paquistanesa e muçulmana, a qual tem seus conflitos como toda adolescente, tanto em relação a sua religião, quanto à cultura de seus pais, além de conflitos sobre o certo e errado, trazem, quase de imediato, aproximação com qualquer adolescente, e isso seja qual for sua nacionalidade, religião ou escolha ideológica.
Por isso, essa personagem pode ser considerada como a revelação das personagens de minoria, mostrando que a Marvel busca muito mais que vender quadrinhos, mas promover o objetivo de todo HQ, reflexão, quebra de estereótipos, além de um mundo além do imaginável. Mas, voltando ao roteiro, o ápice da personagem se constrói mesmo quando somos instigados a refletir sobre um modelo perfeito, no qual ela evolui quando deixa de seguir padrões impostos e se assume na própria essência. A garota, que antes tinha como modelo perfeito uma loira de olhos azuis, corpo escultural, aceita pela maioria, passa a entender que ser única e imperfeita é o que faz dela, Kamala, como diz seu próprio nome e no paradoxo universal, perfeita.
Sobre a roteirista, a qual espero ansiosamente pela visita ao Brasil e quem sabe na próxima Comic Con (teria um mini-infarto), trata-se de uma mulher, convertida ao Islam quando se especializou em Literatura Árabe, 33 anos, G. Willow Wilson (Gwendolyn Willow Wilson).
Ganhadora do Prêmio Hugo, para melhor história em quadrinhos, essa mente espetacular começou sua carreira como escritora aos 17 anos quando escrevia para o Boston's Weekly Digg, um jornal alternativo da cidade de Boston, como crítica de música. Depois de se graduar na faculdade se mudou para o Cairo, no Egito, onde se tornou a primeira mulher ocidental a entrevistar o Xeique Ali Gomaa, um dos mais influentes clérigos do islã moderno. Ela também é uma leitora assídua de histórias em quadrinhos desde seus onze anos de idade, quando leu pela primeira vez uma edição de Uncanny X-Men. Atualmente, além de colaborar com veículos jornalísticos, é também escritora do selo Vertigo, da editora norte-americana DC Comics. Entre seus trabalhos para a editora estão uma temporada no título mensal Os Renegados, a minissérie Vixen: Return of the Lion e as graphic novels Air e Cairo, sendo que esta última ainda vem sendo publicada desde 2008, além de livros publicados, como Alif, pela editora Rocco.
Quanto a arte, temos Adrian Alphona, quadrinista canadense conhecido por seu trabalho em The Runaways Marvel Comics, co- criado com o escritor Brian K. Vaughan. Ele foi contratado para desenhar o segundo volume de Spider-Man - Loves Mary Jane , quando o escritor Terry Moore assumiu as funções da escrita de Sean McKeever , Alphona , porém escolhe deixar os quadrinhos inteiramente , e só supre as tampas para a nova série , assim os deveres de arte foram entregues Craig Rousseau. No entanto, Alphona fez um retorno aos quadrinhos em Junho de 2009 , fazendo arte para o Capitão Bretanha e MI: 13. Anual. Mais tarde, ele chamou Uncanny X-Force junto com Ron Garney . Mas, foi em agosto de 2013, junto com a Marvel Comics estreando a série mensal Ms. Marvel, que Alphona retorna com tudo como artista. Seus traços se aliam ao roteiro, deixando esteriótipos de lado e promovem a leitura completa de cada requadro, num desenho que simula pintura, o qua particularmente me agrada, foge das caricaturas e aproxima o leitor das personagens nos convidando a um aprofundamento reflexivo.
Enfim, Miss Marvel – Nada Normal- é super recomendado para os amantes do HQ, mas também é um excelente ponto de partida para quem não tem hábito na leitura em quadrinhos e quer começar. A qualidade e importância da história foram reconhecidas pelas críticas e a HQ já concorreu a diversos prêmios, vencendo o Hugo Awards em 2015 e levando um dos principais prêmios no Festival de Angoulême esse ano. Então, só me resta afirmar: leiammmmmmmmmm porque é tudo de bom e, obrigada Panini, traz logo os próximos !!! “Não zoa”.
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